Por: Fábio Bacarin

Nos últimos anos, as prateleiras dos supermercados têm refletido uma mudança significativa, movida pelo crescente interesse dos consumidores por produtos que ofereçam experiências diferenciadas, únicas e fora do convencional. Nesse contexto, as cervejas artesanais ganham destaque.

Esse movimento é parte de uma tendência global, mas ganha uma importância ainda maior no Brasil, onde o consumo de cerveja faz parte da cultura. O país ocupa o terceiro lugar no consumo mundial da bebida, ficando atrás apenas dos EUA e China. Essa mudança não se limita a uma simples busca por novos sabores. Ela está ligada também à procura por qualidade e diversidade em um mercado que até então era dominado por grandes marcas.

O aumento das cervejarias artesanais no Brasil é um fenômeno notável. Em 2014, o número de cervejarias artesanais no país era de apenas 257. Já em 2022, esse número subiu para 1.729, e em 2023 chegou a 1.847. Isso representa um crescimento de 6,8% em relação ao ano anterior, conforme dados do Anuário da Cerveja, elaborado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). E também pelo Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv). Esse crescimento reflete a crescente demanda por essas bebidas.

Fatores por trás da sua popularidade

A popularidade das cervejas artesanais pode ser atribuída a diversos fatores. Primeiramente, há uma mudança no comportamento do consumidor, que se torna cada vez mais exigente quanto à qualidade e ao sabor das bebidas que consome. Elas, com ingredientes cuidadosamente escolhidos e métodos de produção minuciosos, proporcionam uma experiência sensorial única e, ao mesmo tempo, atendem a diferentes preferências de paladar.

Adicionalmente, as cervejas artesanais são frequentemente associadas a experiências gastronômicas. Elas não são apenas consumidas como um produto, mas fazem parte de uma refeição ou de momentos especiais. Essas bebidas frequentemente carregam histórias e simbolizam um compromisso com a qualidade, criando uma conexão emocional com os consumidores e, assim, ampliando sua popularidade.

Outro fator que contribui para o crescimento das cervejas artesanais é a vasta gama de estilos e sabores disponíveis. Enquanto as cervejas tradicionais seguem padrões mais rígidos, com o uso de estabilizantes e conservantes, as cervejas artesanais utilizam quantidades menores, respeitando o tempo de fermentação e maturação, sem pressa.

Nos últimos anos, novas categorias de cervejas, como as versões sem álcool ou com baixo teor alcoólico e de calorias, têm se tornado cada vez mais populares. Essas opções ampliam ainda mais a oferta para os consumidores que buscam alternativas mais saudáveis ou com consumo moderado. A presença dessas categorias nas prateleiras reflete uma resposta às demandas por opções mais equilibradas e acessíveis.

Futuro das cervejas artesanais

Embora as cervejas artesanais ainda representem uma parcela menor do mercado em relação às grandes marcas, é improvável que essa situação persista por muito tempo. Além disso, a crescente procura e, muitas vezes, a escolha por produtos artesanais em comparação com os tradicionais tornam esse cenário cada vez mais provável. Isso se aplica não só às cervejas, mas também a outros itens encontrados nos supermercados, como pães e doces.

Enfim, a boa notícia é que essa transformação abre portas para o crescimento e inovação. Ela permite explorar novos ingredientes, técnicas e estilos, criando cervejas que desafiam as convenções e proporcionam experiências únicas aos consumidores, tornando o mercado mais diversificado e alinhado aos diferentes gostos.

 

Fábio Bacarin é mestre cervejeiro e fundador da Cervejaria Seven Days.


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