A castanha-do-brasil, também conhecida como castanha-do-pará, é uma variedade de castanha originária da região amazônica. Atualmente, o estado do Amazonas desponta como o principal produtor desse alimento.
A extração da castanha ainda é realizada diretamente da natureza, nas árvores nativas, de forma semelhante à extração da borracha da seringueira. No entanto, recentemente começou-se a cultivar árvores produtoras de castanha-do-brasil de maneira sustentável, buscando manter e aumentar sua produção no país.
A necessidade de cultivar castanheiras em fazendas para manter a produção se deve ao fato de que ela vem diminuindo, especialmente devido ao desflorestamento. No entanto, o maior desafio atualmente em relação a esse cultivo é que ainda é cedo para prever o sucesso do cultivo sustentável da castanheira.
No exterior, ela é conhecida como Brazil Nut ou Para Nut e é uma semente rica em gorduras e proteínas. As indústrias de produtos para cabelo utilizam o óleo da castanha-do-brasil em sua fabricação. Além disso, ela possui várias características benéficas para a saúde das pessoas, como seu alto teor de selênio, vitaminas e gorduras monoinsaturadas.
Aflatoxinas: uma ameaça invisível nos alimentos
As aflatoxinas representam um grupo de micotoxinas com uma estrutura química semelhante, capazes de contaminar grãos, produtos lácteos e seus derivados. Entre essas micotoxinas, a aflatoxina B sobressai como a mais perigosa e com maior potencial carcinogênico, sendo também a mais prevalente em alimentos.
Fungos filamentosos, como Aspergillus flavus e A. parasiticus, são responsáveis pela produção desses metabólitos conhecidos como micotoxinas, que possuem um elevado potencial carcinogênico. Elas estão amplamente presentes em alimentos em todo o mundo, sendo detectadas em trigo, milho, amendoim, nozes, aveia, feijão, leite, entre outros.
A toxicidade das aflatoxinas pode causar danos agudos ao fígado, e a exposição a essas substâncias pode levar a efeitos nocivos, como redução da fertilidade, hepatocarcinogênese, teratogênese, mutagênese, imunossupressão, efeito anticoagulante e anemia.
Vários fatores ambientais podem influenciar a produção de aflatoxinas, sendo a temperatura e a umidade relativa consideradas os principais. Em condições favoráveis, certas espécies de fungos podem produzir micotoxinas que, quando ingeridas, resultam em uma doença grave chamada micotoxicose. Essa condição pode causar cirrose, dor abdominal, câncer de fígado, hepatite, febre, vômitos, perda de apetite, convulsões e até mesmo levar à morte, tanto em seres humanos quanto em animais.
Aspergillus bertholletius: uma nova espécie de fungo
Recentemente pesquisadores descobriram uma nova espécie de fungo na castanha-do-brasil, que foi nomeada de Aspergillus bertholletius em homenagem ao nome científico da castanheira (Bertholletia excelsa). Um aspecto interessante dessa nova espécie é que ela não produz aflatoxina. No entanto, ela produz o composto O-metil esterigmatocistina, que é precursor das aflatoxinas.
De acordo com Marta H. Taniwaki, uma das autoras do estudo e pesquisadora do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) de Campinas, em São Paulo, essa característica da nova espécie poderá contribuir para uma melhor compreensão da via biossintética das aflatoxinas, além de fornecer parâmetros para o controle dessa toxina, que tem sido detectada em castanhas-do-brasil. Essa descoberta ressalta a vasta biodiversidade de fungos encontrados no país, principalmente na região amazônica, conforme destacado pela pesquisadora.
Desafios microbiológicos na produção
Para compreendermos a diversidade da microbiota presente na castanha-do-brasil, é essencial que conheçamos o ambiente onde ela é cultivada, como as áreas de castanhais na floresta amazônica. Nessas áreas, o clima se caracteriza pela umidade, que pode atingir até 80%. E também temperaturas de até 40ºC, além de uma estação chuvosa abundante. Essas condições propiciam o crescimento natural de fungos, bactérias e outros organismos.
Além disso, os ouriços das castanheiras, ainda nas árvores, são alvo de ataques de aves, roedores e macacos, que podem deixar inóculos microbianos através de fezes, regurgitações, saliva e também por meio do solo em suas patas. Os insetos também contribuem para a diversidade da microbiota. Os ouriços maduros caem das árvores devido à ação do vento e da chuva, se alojando entre as folhas em decomposição no solo. A coleta desses ouriços não é imediata, pois muitos caem, representando perigo para qualquer animal. Assim, durante pelo menos 1 a 2 meses, os ouriços interagem com a rica biota presente na camada de folhagem, onde há pouca luminosidade.
Durante a coleta dos ouriços, eles são inicialmente amontoados e posteriormente quebrados para a remoção das castanhas, que são então reunidas e acondicionadas em sacos ou caixas. Geralmente, os castanhais estão localizados distantes dos centros de beneficiamento, o que significa que as pessoas que os coletam precisam percorrer longas distâncias a pé, seguindo o curso dos rios, em canoas a remo ou com motores, até chegar às estradas empoeiradas.
Durante todo o percurso, as castanhas ficam expostas a diversos inóculos, o que se intensifica quando são lavadas e ensacadas ainda úmidas. As instalações onde beneficiam as castanhas estão localizadas em áreas remotas da floresta, portanto, não podemos esperar um tratamento de primeira classe para o produto, que exportaremos para os mercados da Europa, Ásia e América do Norte.
Prevenção de contaminação
Após a queda dos ouriços, é importante não deixá-los por muito tempo no chão da floresta, pois isso pode aumentar a contaminação das castanhas e resultar em perdas significativas na produção. É recomendável realizar a coleta durante a safra, com intervalos curtos entre as coletas, a fim de reduzir o tempo em que eles permanecem no chão e, assim, diminuir as chances de contaminação.
Para realizar a coleta de forma segura, os coletores devem usar capacetes e remover os ouriços de baixo das castanheiras para fora do alcance de suas copas, a fim de evitar acidentes. Os ouriços devem ser abertos com um facão limpo, e as castanhas devem ser colocadas em cima de um material de proteção. Ou seja, lonas ou sacos plásticos, folhas de palmeira, entre outros. Isso evita o contato direto das castanhas com o solo, reduzindo assim a contaminação por fungos. Nesse momento, realiza-se a primeira seleção das castanhas, removendo aquelas que estão quebradas ou danificadas.
Embora possa parecer simples, todos esses cuidados são fundamentais, pois estudos indicam que a maior probabilidade de contaminação ocorre durante a coleta. Portanto, é de extrema importância que se tenha um cuidado redobrado nesta etapa do processo.
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