Por: Noeli Santos
Sem dúvida, quando falamos em comida tropeira, o primeiro prato que nos vem à mente é o Feijão Tropeiro. Um prato carregado de histórias, que representa a grandeza do nosso Brasil.
A receita surgiu no período colonial por conta do transporte de mercadorias, que eram levadas para o interior do país. Montados em burros e mulas, animal resistente à longas jornadas, os tropeiros, assim chamados porque conduziam as tropas, levavam essas mercadorias de um canto a outro do extenso Brasil. Esses comerciantes, transportavam alimentos e diferentes tipos de mercadorias nacionais e importadas entre os principais polos econômicos do Brasil. Esse movimento econômico, por assim dizer, ficou conhecido na História do Brasil como Tropeirismo.
A dieta do tropeiro: alimentos essenciais para a longa jornada
Nessas longas viagens, com paradas em lugares ermos, onde não havia comércio ou pousada para abastecer a despensa ambulante, o jeito era levar somente alimentos secos e não perecíveis. Assim, a dieta do homem tropeiro era basicamente composta por:
Feijão, geralmente o roxinho, que proporcionava um caldo espesso; um pouco de arroz, pois este item ainda era caro na colônia; farinha de milho ou mandioca, tanto para acompanhar e dar corpo ao feijão, como também fazia parte do preparo da paçoca, indispensável no farnel (pequena bolsa ou saco que acondicionava a paçoca) do tropeiro, para saciar a fome sem desmontar a mula.
Carne seca, que podia ser bovina, suína ou qualquer caça na falta dos dois, até tatu ficava bom na paçoca; toucinho, item essencial para dar sabor e umidade à farinha seca; temperos secos, pois os frescos não resistiam à jornada. Além disso, havia a abóbora, que cozinhava rápido e durava muitos dias no lombo das mulas sob sol escaldante ou chuvas torrenciais, até dar com os burros n’água (assim nasceu a expressão).
Da mesma forma, o pinhão, que depois de cozido ou assado na brasa, também fazia o lanche do tropeiro. Os ovos, que faziam parte da feitura do Feijão Tropeiro, completavam a alimentação. Por fim, a rapadura e o café adoçavam a vida do viajante e o mantinham desperto no lombo da mula.
O preparo e o legado do Feijão Tropeiro
Com a crescente atividade de mineração em Minas Gerais e a produção de café e açúcar em São Paulo, esse eixo econômico se tornava rota recorrente para os tropeiros. Por isso, o Feijão Tropeiro não tem berço certo de nascimento, podendo ter sido criado tanto em terras mineiras como paulistas.
Seja oriundo de Minas ou São Paulo, não importa, Feijão Tropeiro é símbolo nacional! Para o preparo do prato, logo de madrugada, um dos viajantes colocava o feijão para cozinhar. Assim, depois de cozido, retirava uma parte, para servir no almoço.
Com o feijão escorrido, colocava uma panela no trempé (tripé de ferro para pendurar o caldeirão em cima da fogueira) e fritava o toucinho, um pouco de linguiça seca e temperos secos, como alho e cebola. Em seguida, batia uns ovos e jogava na mistura, mexia um pouco e adicionava o feijão escorrido, colocava a farinha de mandioca e misturava tudo. Servia para o tropeiro com uma caneca de café adoçado. Esse era o desjejum do viajante, que precisava de uma refeição substanciosa para aguentar a longa jornada a frente.
A figura do tropeiro, além de nos deixar a receita dos pratos saborosos que conhecemos hoje, também foi responsável pelo nascimento de vários núcleos urbanos, já que com suas tropas de muares transportavam mercadorias a longas distâncias, semeando vilarejos que se tornariam cidades, como a nossa querida Sorocaba, uma das cidades que nasceu com o Tropeirismo.
Receita de Feijão Tropeiro
Ingredientes
- 500 g de Feijão-carioca cozido firme
- 200 g de Toucinho ou Bacon cortados em cubinhos
- 200g de Farinha de Milho
- 5 Ovos ligeiramente batidos
- 1 Cebola média picada
- 3 colheres (sopa) de Óleo Vegetal
- 4 dentes de Alho picados
- 1 colher (chá) de Páprica Picante
- Sal o quanto baste
- Cheiro-verde picado ou couve refogada em tiras (opcionais)
Modo de Preparo
1 – Aqueça uma panela e coloque o óleo. Frite o toucinho até quase dourar. Junte a cebola e o alho. Frite mais um pouco. Reserve.
2 – Numa frigideira antiaderente, coloque os ovos e mexa até cozinhar, mas não demais. Deixe um pouco úmidos e reserve também.
3 – Em seguida, junte o feijão cozido à panela do toucinho. Acrescente os ovos mexidos e a farinha de milho.
4 – Salgue a gosto e misture bem. A farinha deve absorver a gordura do toucinho. Acrescente cheiro-verde ou couve refogada em tiras se desejar.
Fonte
- CASCUDO, Luis da Câmara. História da Alimentação no Brasil, 4 ed – São Paulo: Global, 2011.
- http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/2010/Historia/artigos/frasson_artigo.pdf
Noeli Santos é estudante de Nutrição e idealizadora do Alergiazero.blog.
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