Apreciada em todos os cantos do Brasil, a feijoada é uma verdadeira paixão nacional. Por isso é comum que a receita figure em cardápios de restaurantes espalhados por todo o país, especialmente às quartas e sábados. Afinal, essa refeição completa e cheia de sabor vai bem em todos os períodos do ano, não é mesmo? Mas apesar de ser considerado o primeiro prato brasileiro para a maioria da população, a origem da feijoada não é verde e amarela.

É habitual atribuir essa criação aos escravos, imaginando que ela teria nascido nas senzalas durante os tempos coloniais, feita com restos descartados pela casa-grande. Isso porque muitos acreditam que os pés, orelhas, rabos, focinhos e línguas dos porcos eram considerados “restos”. No entanto, a verdade é que naquele período, todas essas partes e até mesmo a cabeça desse animal eram tidos como “nobres”. Assim, integravam diversas receitas trazidas ao Brasil pelos portugueses. Ou seja, não faziam parte da alimentação dos escravizados e sim dos senhores das fazendas de café, das minas de ouro e dos engenhos de açúcar.

Durante a colonização, a agricultura e o transporte dos alimentos eram deficientes, com altos valores cobrados por Portugal. Desse modo, as refeições eram muito pobres e escassas, sendo basicamente compostas por milho, feijão, carne-seca, banana e coco. Com isso, não se admitia ocorrer desperdícios durante as preparações. Aliás, nesse cenário um prato bastante consumido pelos afros e afrodescendentes era o famoso “angu”, feito apenas com água e farinha de mandioca. E nem mesmo o sal podia agregar sabor à mistura básica, já que era um ingrediente oneroso. Logo, até hoje usamos esse termo de forma pejorativa quando nos referimos à misturas simples de ingredientes, que não trazem tempero.

O feijão preto

Para desmistificar ainda mais essa lenda sobre a origem da feijoada, é preciso destacar que na época nem os negros e nem os índios costumavam misturar feijão com carne. Essa prática era europeia, vinda do poderoso Império Romano. Portanto, a feijoada seria uma releitura ou adaptação dos cozidos preparados pelos portugueses. Entre eles, o Cassoulet Francês, um ensopado de feijão branco com linguiça, que leva também carnes de boi, carneiro, ganso, pato ou galinha. Então, o que a torna brasileira? Nesse sentido, podemos afirmar que é o uso do feijão preto, aqui implantando pelos negros vindos da África. Um toque que fez toda a diferença na história desse prato!

Já as guarnições e acompanhamentos servidos com o prato surgiram no decorrer do século XIX. Entre os mais tradicionais estão torresmo, mandioca frita, banana à milanesa, pastel, vinagrete, laranja, arroz branco, farofa, couve refogada e caipirinha. Segundo estudos, a primeira oferta pública desta refeição teria ocorrido pela primeira vez no Rio de Janeiro. O palco indicado era o G. Lobo, um restaurante fundado no mesmo século. E com o passar do tempo, a receita teria se espalhado para outros restaurantes da cidade, posteriormente chegando a São Paulo, Minas Gerais e Bahia.

Enfim, a receita caiu no gosto popular e a feijoada se inseriu na cultura gastronômica brasileira, ganhando diversas variações. Hoje é uma representação da cozinha nacional, sendo apreciada inclusive pelos estrangeiros que visitam o país.

 

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